terça-feira, julho 25, 2006

Sobre mentir...

A cena se passa no metrô do Rio, por volta das 22h – aliás, as melhores cenas se passam sempre em veículos sobre trilhos. A menina, acompanhada de um rapaz, trava o seguinte diálogo com a mãe pelo telefone, sob os olhares do moçoilo.

– Mãe, não se preocupe, estou aqui bebendo com umas amigas e vou dormir na casa de uma delas na Tijuca.

Estava na cara – e não precisava ser muito inteligente pra isso – que ela estava mentindo. Iria dormir na casa do rapaz que a acompanhava. Nesse momento me veio uma reflexão sobre a mentira. Conclui que a mentira move a humanidade, sem ela não seria possível um mundo como o nosso.

Imaginem quantas coisas deixariam de acontecer se falássemos a verdade o tempo todo. Uma noite de amor daquela menina seria uma delas. Talvez uma gravidez. Tá, talvez fosse assaltada na porta da casa do namorado. Não importa, muitos amores deixariam de se concretizar. Um primeiro beijo, uma primeira transa, o primeiro chopp com os amigos, um golaço no futebol, ver seu time ser campeão da Copa do Brasil (rs*), tudo em nome de uma sinceridade total impossível.

Por falar em amigos, seria impossível tê-los se falássemos a verdade o tempo todo. Quantas vezes falamos que alguém está bem, quando está na cara que a pessoa está um trapo. Ou quando vamos falar mal de alguém que a pessoa acabou de conhecer e está apaixonada. Até mesmo contar uma traição. Já vi amizades destruídas por conta desse exercício de alcagüete.

Embora esteja longe de ser uma virtude, mentir exercita a criatividade. Faz a mente funcionar. Serve até para inventar uma boa desculpa para o chefe por aquela besteira enorme que acabou de fazer. Aumenta a adrenalina e ativa o metabolismo. Até emagrece, possivelmente.

Como tudo, exatamente tudo na vida, mentir tem que ser na medida certa. Sem exageros, sob pena de o mentiroso acreditar nas próprias mentiras e viver num mundo paralelo. Mas viver sem ela, já atestei, é impossível.

Enfim, mentir é do ser humano e dá ao mundo a dinamicidade que ele tem hoje. Ah, como seria chato um mundos sem mentiras.