sexta-feira, julho 07, 2006

Tudo é possível


Quando meu professor de psicologia da faculdade dizia que "A mim, ser humano, tudo me é possível" (sic) eu não levava muita fé. Mas ontem acabei comprovando a teoria. Já vinha pensando em escrever algo sobre o assunto, mas era pra ser um texto curto, parte da série "Tem lei para quê?". No entanto, me arrisco agora a escrever um texto longo e que talvez minhas leitoras - e leitores - não cometam a bobagem de chegar ao seu final. Mas se chegarem, vou estar lá e compartilhar meus pensamentos.

Bem, o assunto era a lei que determina a criação de um vagão específico para mulheres nos trens e metrô do Rio. Por si só um assunto polêmico até mesmo entre as meninas, o que dirá entre os homens. Eu ia dizer que vejo todos os dias homens nesses vagões desrespeitando a lei – e quiçá as mulheres. Embora não concorde com esta lei (calma meninas, explico depois), acho que ela tem de ser cumprida. E não está sendo.

Eu explicar depois, mas vou explicar logo, sob pena de tomates, ovos e tortas na cara. Separar as mulheres em um vagão só, para mim, é um tremendo absurdo. Primeiro porque é como se fosse um apartheid (peguei pesado né?), segundo é que a probabilidade de você conhecer alguém no metrô e se apaixonar agora é mínima. Imaginem quantas histórias vão deixar de ser contadas. Por último, o que tem que se cobrar é respeito dos canalhas, pervertidos, abusados, assanhados que encostam seus corpos (pra ser mais suave) nos das pobres incautas meninas, não separá-los em outros vagões. E o pior, as mulheres que resolvem ir nos vagões normais ainda correm o risco de serem curradas, porque o raciocínio masculino predominante vai logo se encarregar de criar: "Se tá aqui é pra ser sarrada" e outras pérolas mais.

Por que escrevo sobre isso tudo? Ontem passeando no Orkut, procurei uma comunidade do metrô, do tipo "Eu ando de Metrô". Pra minha surpresa - nem tanta - havia uma com título algo parecido como "Encoxadores do Metrô Rio". Até então pensei que os caras haviam se profissionalizado e estavam ali para trocar experiências sobre os abusos e suas vítimas femininas. Para minha surpresa era uma comunidade gay, com caras marcando "encontros" em vagões tais, portas tais, que se tivesse ali, poderiam passar a mão no p... deles, que eles passsavam no de quem tivesse ali. Uma loucura. Minha primeira providência foi evitar a segunda porta do primeiro vagão, pois é ali que estão os encoxadores gay. Meu deus, tem de tudo nessa comunidade. Conclusão, o apartheid criou um nicho para os gays, que não são mais obrigados a conviverem com tantas mulheres a sua volta, pelo menos na hora do rush.

Dentro dessa comunidade, achei indicação para uma outra, essa sim dos "encoxadores" profissionais de ônibus, trens, filas de banco (?!), vitrines de lojas (?!). Eles lá trocavam experiências sobre as encostações e esfregações, ensinavam táticas, estabeleciam metas diárias e mensais, tinha de tudo. É a institucionalização da sacanagem. A oficialização da libertinagem masculina - e feminina. Mais engraçado era ver alguns relatos de meninas - uma até muito bonitinha, não parecia ser perfil falso - que gostavam (pouquíssimas), também contando suas experiências.

Olha, até acho que no metrô podem haver algumas situações digamos assim excitantes. Sei que é agora que vêm os tomates. Mas muitas vezes é inevitável e quem pega metrô lotado sabe disso. Não estou falando de abusos, mas sim de coisas leves, ficar perto de uma mulher cheirosa, um certo contato físico, repito, sem abuso, sem aquilo enconstando naquilo outro, nem mãos distraídas, como os relatos da dita comunidade. Mas entrar no orkut para dividir experiências de coisas que já se sai de casa pensando nelas, todos os dias, é muita falta do que fazer. Ou então o século XXI está nos deixando loucos mesmo, como eu escrevi outro dia por aqui. Aos poucos vão todos embarcando nesse trem de tantãs que é a existência humana.

Com isso vejo que realmente "tudo me é possível", até onde vão as taras e as mentes do ser humano, se é que elas param em algum lugar. E a internet é o território livre ideal para essas pessoas extravasarem suas mais íntimas fantasias e colocaram ali, tudo que pensam, sem medo de serem descobertos, na prática de um exercício de absoluta catarse.