segunda-feira, julho 02, 2007

Amargo retrato


Kennedy, boy aqui do Cabaré, mora num morro do Complexo do Alemão. Com 16 anos, já tira seu sustento de forma honesta a despeito de todas as tentações de dinheiro fácil existentes no morro. Trabalha de dia, faz segundo grau a noite. Nos fins de semana curte um baile funk. Talvez aí esteja o seu erro. Pobre não tem que se divertir. Tem que apenas sofrer. Nasceu para isso.

Pois então, Kennedy, contrariando sua natureza, resolveu se divertir no fim de semana. Desceu com um amigo a caminho do baile funk. O morro estava ocupado por policiais há duas semanas, na maior operação já feita no morro, elogiada por toda a imprensa nacional. Foi então que chegando no asfalto Kennedy ouviu:

- Ô menor!!!! Tá indo pra onde?

Pobre, além de ter de sofrer, não tem o direito de ir e vir. Eles não são amparados pela Constituição, simplesmente porque não são cidadãos. Kennedy tremia dos pés a cabeça, porque sabia o que estava por vir.

-Tira a roupa, quer ver se tu tem bagulho aí - disse o policial, apenas cumprindo o seu dever.

Kennedy e seu amigo tiraram as roupas. Não havia nada com eles. Estavam nus e continuaram a ser humilhados pelo fantástico policial. Ainda no seu papel de representante do Estado, o soldado pergunta se eles iriam roubar um ônibus ou algum transeunte. Era óbvio, estava na cara que dois garotos negros e favelados só podiam estar descendo pra roubar alguém. Mas os dois estavam desarmados.

-Menor, volta pra casa agora senão vou te encher de porrada
-O sr. poderia me dar minha roupa então?
-Que roupa é o caralho....vc quer sua roupa? Vai buscar.

E jogou as vestes do pobre rapaz numa fossa a céu aberto. Deu dois tapas bem fortes no meio da cara dos dois e os mandou voltarem para casa do jeito que estavam. Kennedy e seu amigo, humilhados, voltaram para casa. Chegando em casa Kennedy, merecidamente, ainda apanhou da mãe. E iria apanhar do pai mais tarde, quando este chegasse da bebedeira em que estava metido desde de manhã.

Amargo retrato do nosso Brasil.