segunda-feira, novembro 27, 2006

Observações e opiniões

O que mais faço quando ando pela rua é reparar nos outros. No jeito como as pessoas falam, como se vestem, o tipo de atitude geral diante da vida. Na minha vida particular, acabo sendo assim também e reparando muito nos que estão à minha volta. Um dos meus últimos objetos de observação tem sido o relacionamento das pessoas com a religião. O que tenho visto é que hoje se dá muito mais valor a mostrar para os outros que se tem determinada crença do que buscar a essência da seita a qual se freqüenta.

Cada vez mais tenho a nítida impressão que o que importa hoje é fazer parte de um grupo. Basta isso. Como se tivéssemos voltados a ser índios e fossemos obrigados a ter uma tribo. Essa tribo para muitos é a religião. No dia-a-dia vejo provas irrefutáveis disso.

Um exemplo – e é sempre o meu preferido – são os cristãos protestantes, carinhosamente apelidados de evangélicos por aqui. O que se vê são pessoas paranóicas com a possibilidade de arderem no lago de fogo e enxofre pelo resto da existência da alma. Por isso, só ouvem os cantores evangélicos – que vendem milhões de CDs e ficam ricos assim como os artistas Pop – vêem filmes de Jesus, colocam roupas, adesivos no carro, têm revelações a cada minuto, colocam frases no plano de fundo no computador. E no fim, se esquecem da essência dos ensinamentos de Jesus, que se resumem em Amar Deus sobre todas as coisas e ao próximo – e é nessa parte que falham, sempre – como a si mesmo.

E o melhor é que ficam abitolados, tudo é aviso, tudo é revelação, tudo é demônio. Se alguém está doente, é o espírito da doença que está freqüentando a pessoa. Se está sujo, é o espírito da imundície. Não serão simplesmente estados de espírito? Não fica melhor assim, do que achar que há um demônio na sua casa trazendo problemas para tua família? O que eles estão fazendo na igreja aos domingos e abrindo espaço para esse tipo de coisa freqüentar as vida deles?

E outra. Ainda vou parar pra contar, mas as palavras satanás e demônio são mais repetidas nos cultos do que as próprias palavras de Jesus. E têm sonhos com tudo, com magia negra, com seqüestros, macumbas – em geral já freqüentaram rituais de magia – sempre com coisas ruins. Geralmente – eu disse geralmente não é regra – são perturbados espiritualmente por opressões malignas e outros bichos. Será que isso tudo é tão bom assim para a vida de uma pessoa? Afinal a vida tem que dar certo aqui ou só lá do outro lado?

Os outros objetos de observações têm sido alguns budistas conhecidos. Esses não têm o mesmo problema dos protestantes, pois são mais discretos. Mas também acho que só são budistas por serem, porque é realmente uma doutrina interessante, mas suas essência, dificilíssima de ser seguida, por uma cabeça nascida em terras ocidentais. O que sobra é usar o dialeto próprio, falar palavrinhas – ou mantras – em japonês, desejar boa sorte para todos, mas no fundo não estão nem perto daquilo que deve ser o objetivo da religião. Pelo menos os que eu conheço, não considero pessoas assim crescidas espiritualmente – que acho que é o objetivo de todas as religiões –, são normais, como eu e a estimada leitora.

Se for continuar a falar de cada uma das religiões e a postura dos seus seguidores, vou ter de ficar o dia todo escrevendo e talvez o Google me cobre por isso. Sim, as pessoas têm defeitos, eu acumulo milhões deles. O ponto é que é extremamente difícil seguir uma seita, mas facilmente se gabar por fazer parte dela. E por isso as pessoas não crescem, não melhoram, continuam com as mesmas mesquinharias de sempre, as mesmas picuinhas, os mesmos malditos preconceitos. O que cresce é a hipocrisia e com ela uma piora constante do mundo e das interações entre as pessoas. Uma pena.