Texto publicado em 11 de janeiro de 2006 no "Profundezas..." por este que vos escreve:
Manifesto de Porra Nenhuma
Lendo um artigo do Zuenir Ventura hoje em O Globo, parei pra pensar o que é mais do que óbvio: como o brasileiro é um povo apático. Escândalos na política, operações tapa buraco no último ano de governo Lula - isso sem falar do fato de que nem 1 cm de rodovia foi construída ou melhorada de 2003 pra cá - as gigogas na praia, o atentado ao 350, impostos exorbitantes e péssima aplicação do dinheiro do contribuinte - me cobraram R$ 548 pelo IPVA de um carro 96 -, a violência urbana, o caos nos hospitais, as péssimas condições de educação seja no ensino fundamental, médio e superior.
Não dá pra parar por aí. A luz tá cara, o transporte tá caro, a alimentação tá cara. E o salário lá embaixo. As vans. Ah as vans. Seus donos estão com o estado do Rio nas mãos. Se forem desagadados criam o caos. E não há repressão da polícia. É o poder público nas mãos da bandidagem. Isso sem falar no tráfico de drogas. Causa mor da violência que vivemos.
Diante de todo esse quadro, simplesmente ninguém faz nada. Não há uma pequena revolta na rua. Ninguém se insurge contra nada. O nosso povo só quer saber de festa. Estamos loucos para que chegue o carnaval, acabamos de sair de um réveillon quando lotamos a praia de Copacabana para ver os fogos estourarem no céu e comemorar a chegada de um ano que vai ser igual a todos os outros. Teremos mais de meia dúzia de feriadões esse ano e e-mails circulam pela internet comemorando isso.
O pobre trabalha, trabalha, trabalha para ganhar um mísero salário mínimo, ou menos até. Pra dar 10% pro Pastor ou pra dar 90% pro dono do bar da esquina. Vivemos a cultura da cerveja geladinha que cura qualquel mal. Ou da oração que alivia qualquer sofrimento. Enquanto se ora na igreja aos Domingos e Quintas, ou enquanto se embebeda no bar, os políticos nos quais votamos estão receebendo dobrado para não fazerem NADA!
Enquanto isso não se vê mudanças. Ninguém muda nem de atitudes. Continuamos a sujar nossas ruas, nossas lagoas, nossas praias. Quebramos orelhões, estragamos o transporte público. Vivemos ainda a cultura da malandragem. O mais esperto é o que se dá bem. Compramos roubado ou falsificado, para nos roubarem depois de novo. Quanta burrice. Que povo burro esse nosso. "Vou chamar a polícia". "Eu sou a polícia". A polícia te ameaça em vez de te proteger e protege o bandido em vez de ameaçá-lo.
Que país é este? É a porra do Brasil, como todos cantam quando toca a canção do Renato Russo. Porque não só "é o Brasil, porra"? Até nossa pátria temos o costume de esculhambar. A esperança venceu o medo. Que esperança? Que medo? Só saímos perdendo. Não tenho uma dia que abramos e jornal e pensemos, "hoje eu ganhei".
E eu? O que estou fazendo? Nada. Sou mais um no meio da multidão de zumbis em que vivemos. O único instrumento que tenho coragem de usar para expressar minha revolta é esse. Umas bobas palavrinhas num blog. A sensação de impotência que me invade deve ser a mesma de todos os brasileiros. O que vou fazer? Eles estão lá, eu aqui. Não consigo vislumbrar mais um futuro decente para o Brasil. Perdi a esperança. Eu luto pelo meu, você luta pelo seu, e assim proseguimos. Em busca de nada. Em busca de nada. Em busca de nada.
terça-feira, agosto 08, 2006
É a porra do Brasil
Postado por Beto às 4:54 PM
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