quinta-feira, outubro 05, 2006

É o sistema, estúpido


Para tudo, praticamente tudo hoje, existe uma máfia. É incrível como tudo neste país tem um mercado paralelo. José Saramago já havia antevisto isso em seu “As intermitências da morte”, parte de sua maravilhosa obra, da qual sou fã. Naquele livro, Saramago dizia que a máfia – e lá ele escrevia com ph – se adapta rapidamente às mudanças e consegue permanecer viva, geralmente pela força. E olha que ele nem é brasileiro.

E é incrível que quem mora na periferia do Rio sabe tudo sobre essas máfias. Eu não imaginava por exemplo que os motoristas de van da Zona Oeste cobram pedágio dos motoristas de ônibus regulares. E quando há inadimplência, os pobres coitados levam fogo.

Dá para mensurar o absurdo que é isso? Tá certo, o transporte não funciona bem, mas como é que o pode público permite uma “máphia” num serviço assim tão essencial? Será porque não há poder público? Pode ser, e é. Nos últimos dez anos, tivemos governantes garotinhos que só fazem coisas que atraem votos e não beneficiam em nada a população.

E os cidadãos dessas localidades também sabem todos os esquemas dos policiais. Fulano que cobra cachê para fazer segurança do bairro. Ciclano que recebe dinheiro de motorista de kombi. Beltrano que tá ligado aos caça-níqueis. E por aí vai. A criatividade é o limite. E simplesmente, se resignam, aceitam. Assim tá bom.

Essas máphias simplesmente ocupam o espaço deixado pelo poder público. É assim também com os traficantes, que fazem a segurança das favelas e levam os meninos para o tráfico e não para a escola. É assim com quase tudo. É uma pena que os anos passem e a situação só se agrave. Uma pena que o sistema seja tão ruim e definitivamente não funcione.