sexta-feira, outubro 06, 2006

Que me perdoem as morenas

Ela era branca, uma alvura paralisante
como imaginavam os poetas românticos
tinha a beleza estampada no corpo
os lábios, ressecados, à espera do toque

Ele, um pobre rapaz, bonito e sozinho na vida
ficou ali, comtemplando aquela beleza ímpar,
aquele sonho de verão que flutuava pela plataforma
A seguiu sem saber muito pra onde ia.

Que se danem as morenas, mulatas, ruivas e loiras
Que se danem aqueles que acham as brancas sem sal
Aquele tempero era pra gostos apurados
As madeixas negras, presas é verdade,
davam o contraste necessário.

O rapaz se aproximou, sentiu seu perfume natural
Se satisfez só com a distância, tal era o encantamento
Viu 20 minutos passarem em um segundo
Queria se desvencilhar daquilo, não conseguia,
pobre rapaz

As roupas dela nem escondiam demais,
Mas também não mostravam muito, só o suficiente
Uma mescla de curiosidade e certeza da perfeição
plantava nos olhares dos incautos que a seguiam

E ele ali, parado, ao seu lado, à espera de um olhar,
À espera de um gesto de consentimento
Consentimento que nunca conseguiu
À espera de um milagre, milagres não existem

O milagre nunca aconteceu deveras
E na gare da vida, todos se dispersaram
Na memória apenas o cheiro,
E os contornos deixados a mostra

Como se a retina tivesse sido impregnada
pela visão extraordinária da alva musa
Da estrela d’alva no céu do quente cotidiano
se perdendo em meio à multidão