Domingo, 01h15m da madrugada. Surge uma idéia. Resolvo escrever um texto. Bobo como todos os meus. Fiz uma descoberta. Um lampejo em minha mente me mostrou algo que estava na minha cara. Uma coisa tão tosca, que você leitora, talvez pare por aqui. Ainda assim me arrisco a ser chamado de idiota.
Gastei minha energia escrevendo um belo dum nariz de cera – como dizemos no jornalismo de um texto ou parte de um texto totalmente inútil e dispensável – e ainda não disse nada. Mas eu prometo. Não sei se ainda neste parágrafo. Mas como eu quero terminá-lo em quatro linhas do Word, talvez eu tenha que começar. Não vai precisar mais, já deu quatro linhas. Passou.
Pronto, agora vou eu. Direto e seco. Descobri que existe uma conspiração universal cujo objetivo é afastar cada vez mais os seres humanos uns dos outros. Tá certo que a conspiração tem se saído mal até agora. Mas ela existe e disfarçada de um nome conhecido de todos nós: tecnologia.
Começo com a mais famosa de todas. A Internet. Ela foi instituída com o único e definido propósito de nos separar. Ao enviarmos um e-mail a alguém, não precisamos mais falar diretamente com aquela pessoa. Evita-se um contato mais próximo. Não precisamos nem ouvir a voz do seu interlocutor. Uns bytes e está resolvido.
E hoje é melhor. Tem lá o orkut, onde você pode fuxicar o perfil daquele seu amigo distante. Saber o que aconteceu com ele. Se casou, foi promovido ou se virou gay. E na necessidade de lhe falar algo, o scrapbook está lá sempre a postos, pronto para receber qualquer reles mensagem besta.
Mas essa história vem de longe. Veja o telefone. Quando não havia telefone o que acontecia? As pessoas iam conversar. Se aproximavam. Sentiam o calor da outra. Podia ver o suor escorrendo do rosto com uma pergunta difícil. A emoção era indisfarçável. Uma palavra mais ousada e a recompensa maior: ver o outro ruborizado. No telefone não. Só pulsos elétricos traduzidos em voz. Um simulacro da realidade, como eu costumava ouvir muito na faculdade de jornalismo.
A TV é outra vilã dessa liga de super-heróis pelo avesso. Reúne-se a família na sala. Todos em volta da TV. Uma palavra basta para ouvir um sonoro cala a boca. Embora próximas umas das outras, cada uma das pessoas em volta da caixinha mágica vai viajando nos pontos luminosos produzidos na tela, de acordo com sua própria experiência de vida. O contato é repelido. A intercomunicação também. Os casais na cama vêem TV até dormir. Coitada da natalidade.
Pelo menos o cinema não era – e ainda não é – assim. O casal ia lá. O filme era apenas uma desculpa para um beijo roubado. Uma mão mais ousada. O beijo sem pudor. O início de uma trilha que todos sabemos onde ia dar. Hoje compra-se um DVD pirata no camelô da Graça Aranha. E mesmo com as legendas todas erradas, finge-se estar se divertindo com os delírios hollywoodianos.
Se eu for continuar, não vai haver mais espaço e nem paciência da leitora. É o ar-condicionado, o microondas, discmans, mp3, mp4, playstation, cd-player, auto-radio e o escambau. A saída? Fazer o melhor uso dessa ferramenta para se aproximar do outro. Usar o e-mail para marcar um chopp. O orkut para marcar um encontro. Chamar ela pra casa pra ouvir um cd naquele moderníssimo home theater, mas em cima daquele sofá quente e aconchegante.
Nada substitue o olhos nos olhos. O calor da fala. O rubor. O riso excitado. O charme declarado. Uma saia, um vestido. O beijo. Ah o beijo. O toque. O contato total entre dois corpos. O pré-sexo. O sexo. O pós-sexo. Agarrado com ela na cama. Fazendo um carinho. Sentindo o calor. Se entregando. Isso é o que a conspiração tecnologia está tentando criar. Ainda não é possível. Eu fico com o rubor do rosto dela.
domingo, dezembro 24, 2006
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