Estou tentando fazer uma reflexão em cima de algo ruim - que já era esperado - que aconteceu hoje. Para situar minhas leitoras, minha noiva Tatiane trabalha na mesma empresa que eu, ela é telefonista/recepcionista, ou melhor, era. Ela foi demitida por um motivo esdrúxulo: não aceitar ficar com a responsabilidade de abrir a empresa, ás 7h da manhã. Responsabilidade que o setor administrativo da empresa não quis assumir nunca e que a jornalista responsável pelo conteúdo do site - que mora aqui pertinho em Santa - quis passar para frente, porque, isso tenho que admitir, tornava seu trabalho improdutivo.
O fato é que Tatiane mora em Realengo e para estar aqui às 7h, teria que acordar às 5h. Seja subúrbio ou zona sul, todos sabem que o Rio é perigoso a essa hora e - digo isso sem nenhum preconceito, só pela vericidade do relato - que isso é hora de faxineiras e pedreiros acordarem, porque não tiveram oportunidade de estudar e por isso se sujeitam aos caprichos capitalistas para poderem servir ao sistema. E o cafézinho do chefe também
Tatiane estudou. Se formou em Letras, viu que não era a dela, e agora faz Direito. Ainda não conseguiu um estágio e, por isso, permanecia aqui. De uma maneira ou de outra, o emprego a ajudava a pagar a faculdade. Mas como ela disse, os empresários não querem, nem procuraram saber disso. Valorizam aqueles que, por motivos diversos, chegaram a níveis mais altos dentro da empresa, e desvalorizam aqueles que acordam 5h40m da manhã e fazem a empresa funcionar. Valorizam quem não demonstra o mínimo etsão pelo trabalho e desvaloriza aqueles que "fazem o serviço sujo". Tudo pelo bem do lucro, pelo bem do capitalismo.
Leitoras, não pensem que sou comunista, socialista, esquedista, e tudo mais que termina com "ista", exceto jornalista. Me acho até muito de direita, seja lá o que isso significa hoje no país. Mas essa lógica é burra. Colocar o interesse da empresa na frente do ser humano é algo que fere todos os atributos do bom senso. Se ainda fosse o interesse público – olha o Direito Administrativo aí – vá lá, mas é o interesse de um, dois e ponto. Infelizmente vivemos a cultura do egoísmo e da maximização dos lucros.
O texto deve parecer a todas vocês um pouco do choradeira pelo o que aconteceu, e digo que até é, porque estou escrevendo no calor do momento. Mas sabe, não gosto de injustiça. Porque sei que mesmo sendo um emprego de merda, a Taty sempre o valorizou pelos benefícios que ele a propiciou. Mas no final não foi valorizada. O que peço é que agora a Tatiane consiga se realizar profissionalmente e possa jogar na cara daqueles que fizeram isso com ela, que ela está acima disso tudo.
segunda-feira, junho 26, 2006
Capitalismo selvagem
Postado por Beto às 4:07 PM
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