sexta-feira, junho 30, 2006

Revanche sim



É impossível não lembrar daquela tarde de julho de 1998. Eu tinha 19 anos. Não sei se fabriquei essa lembrança, mas o dia era sombrio. Fazia um pouco de frio. A cerveja descia fácil por conta da tensão que estava no ar. Fico até com lágrimas nos olhos ao lembrar daquele dia. Foi um pandemônio, um dia infernal em todos os sentidos.

Pré-jogo. Vieram as primeiras notícias de que Ronaldo – então Ronaldinho – não jogaria porque tinha tido uma convulsão. Até me animei com a possibilidade da entrada do Edmundo, que um ano antes tinha feito felizes os torcedores do meu Vascão ao ajudar o time a consquistar o tri-campeonato brasileiro em cima do Palmeiras. Mas na verdade senti que ali algo começava a dar errado.

Mesmo com toda a confusão, Ronaldo entrou jogando. “Botei, porque botei, porque sou macho” diria Zagallo após o jogo. Enfim, o jogo começa. Roberto Carlos, meu xará, tenta fazer bonito num lance perto da bandeira de escanteio mas deixa a bola escapulir e cede o córner aos franceses. Não lembro bem que bateu, gol do Zidane, de cabeça. 1 X 0.

Ali começava tudo a desmoronar. Poucos minutos depois o Brasil tomaria o segundo gol. Mesmo assim acreditávamos na qualidade do nosso futebol e torcemos, rezamos, fizemos todo o possível para mandar energia positiva para aquela batalha no Stade de France. Vem o segundo tempo, o gol brasileiro não sai e a poucos minutos do fim tomamos o terceiro.

A essa altura eu já estava pra lá de bêbado, tentando esquecer a vexaminosa derrota. Com o apito final, vem o início do furacão. Um amigo, tão bêbado quanto eu, mas muito mais irresponsável grita da esquina da rua que vai atear fogo na mendiga, que lá dormia há anos.

As pessoas correm meio incrédulas para ver se era aquilo mesmo. Chegando perto J. realmente coloca fogo, por sorte, nas coisas da mendiga. Um tio, ao repreendê-lo é surpreendido pelo outro sobrinho, irmão do pirotécnico, com um soco. Começas as brigas.

Um vizinho, com raiva, vai em casa, pega uma faca e ameaça matar J. As pessoas entram em pânico, que gritaria. C., amiga de infância, ajoelha na rua e se pergunta porque aquilo estava acontecendo com a família dela. Eu a consolo. As brigas continuam. Vizinhos descem e discutem entre si. As coisas da mendiga continuam queimando. Nunca houve tanta lavação de roupa suja em tão pouco tempo.

Por isso tenho tanta trauma da França. Sem esquecer que em 1986, primeira copa que eu realmente acompanhei e lembro jogo por jogo, fomos mais cedo para casa, enviados pelos mesmos franceses, leia-se Michel Platini e cia. Sem esquecer que o Zico perdeu um pênalti no final do segundo tempo.

Esse ano, quero revanche sim. Pára com essa bobagem de dizer que é outro jogo é outro time. É revanche e ponto final. Quero que o Brasil mande mais cedo para casa os homens da revolução. Quero sentir o gostinho de ver o Brasil ganhar a França e apagar da mente toda aquela revolução de 98. Pra frente Brasil. Rumual Ékissa!!!