A emoção era tanta que até dormi. Ao meu lado, Polito (D) e Alexandre (E)
Uma ansiedade toma conta do ambiente, as pessoas aguardam o instante crucial, aquele em que todos os povos são iguais e lutam por um mesmo ideal - vencer. O coração bate forte, o medo da derrota assombra, cigarros acendem-se, cigarros apagam-se, o suor escorre de nervoso, mesmo num dia frio de junho. Um dia em que os corações nada de frio têm. Sobrecarregados pela adrenalina, pela emoção, se contraem e distraem (sic), num esforço sem tamanho para manter o sujeito ali em pe, roendo as unhas, com o grito preso na garganta, o grito de gol.
E ele vem, as pessoas se abraçam, os mais animados urram como leões ferozes a procura de sua fêmea. Que alegria é aquela nos rostos? Que capacidade de se esquecerem dos próprios problemas e se unirem, numa corrente de bons fluidos? Fluidos que movem o mundo, movem uma bola e são movidos por ela. Uma borboleta batendo asas no afeganistão não faria estrago maior do que uma bola tocando o fundo das redes.
O momento de animação passa, todos querem mais um, mais dois, mais três, mais mil. Querem o show das jogadas bonitas, das bolas bem tocadas, dos dribles desconcertantes. Aliás, que outros adjetivos poderia se dar aos dribles, esses que desmontam expectativas, derrubam adversários, encantam o mundo, como num balé desingonçado?
Quantos cronistas já se expressaram sobre essa mágica? Quantas linhas de encantamento infantil já foram escritas, movidas pela hipnose dos magos da bola? Sim, temos problemas, as crianças passam fome, a política é só poder, a violência tira nosso direito de ir e vir, mas por que não se orgulhar de 22 caras que fazem o país esquecer tudo isso em 90 minutos, provocando uma alegria quase alucinógena em cada ser humano que os acompanham, mesmo que temporária. "Posto que é chama, que seja eterna enquanto dure", diria Vinícius.
A Copa do Mundo é isso, uma substância entorpecente que não causa dependência química nem psíquica. Que faz sorrir, quando se poderia estar chorando. Que traz união, quando se poderia estar brigando. Que traz amor, no lugar de ódio. Que provoca calafrios, em vez de apatia. Que faz nossa amarga vida, ser um pouco mais doce.
quinta-feira, junho 29, 2006
Doce emoção
Postado por Beto às 3:32 PM
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